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Odontologia – Universidade Federal do Pará forma indígenas para suprir vazio assistencial nas comunidades

FO/UFPA montou banco de instrumentais para auxiliar esses alunos a concluírem o curso;
cirurgiões-dentistas e indústrias podem doar instrumentais para contribuir


O Brasil é um país continental com diversos vazios assistenciais que impedem que algumas
populações específicas afastadas dos grandes centros tenham acesso à chamada saúde universal
garantida pela Constituição de 1988. Muitas comunidades indígenas que residem no norte do país
se encontram justamente nessa situação e, apesar de esforços governamentais, a atuação da
iniciativa privada somada ao empenho de organizações sem fins lucrativos se faz extremamente
necessária para amenizar os impactos negativos do afastamento desses povos do atendimento
médico e odontológico.


Uma iniciativa da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Pará (FO-UFPA) busca
transcender a assistência para vencer a falta de atendimento em diferentes comunidades
indígenas do estado. Nascido em 2010, o projeto inclui indígenas no curso de odontologia para
que, após formados, eles possam retornar “para casa” capazes de atender e, assim, contribuir com
a manutenção da saúde de seus conterrâneos.


Os primeiros indígenas foram matriculados na Odontologia da UFPA em 2015. Sob a gestão da
professora doutora Liliane Silva do Nascimento, atual diretora, foi observado um alto índice de
evasão desses alunos e a equipe passou a agir estrategicamente para segurá-los até o final do
curso. “A diretora percebeu que apesar de entrarem quatro novos alunos indígenas a cada
semestre, tínhamos apenas dois deles formados em 2021. Com esse dado em mãos, procurou
esses alunos para entender o que os levou a desistir. Descobriu que muitos dos problemas
estavam atrelados à dificuldade financeira para aquisição dos instrumentais necessários durante o
período do curso”, conta a professora doutora Lurdete Maria Rocha Gauch, vice-diretora da FO-
UFPA.


Apesar de não haver custo com a mensalidade em uma universidade federal, um aluno de
odontologia chega a gastar R$ 8 mil por ano com os materiais necessários para a parte prática dos
estudos.


Foi então que a FO-UFPA lançou um banco de instrumentais para dar suporte a esses alunos. Com
campanhas pontuais, a universidade arrecadou doações de equipamentos junto a profissionais
que estavam trocando os instrumentais, indústrias, fabricantes e até mesmo cirurgiões-dentistas
aposentados. Neste banco, os alunos podem retirar os materiais que precisam para aquele
semestre, devolvendo após o término da etapa, para que outros alunos também possam se
beneficiar.

Adaptação a uma realidade diferente


Além do banco de instrumentais, a FO-UFPA se preocupa com a adaptação desses alunos que
chegam à cidade após uma vida inteira vivenciando uma realidade completamente diferente. Cada
comunidade indígena tem a sua cultura, totalmente respeitada entre os alunos da odontologia.
Para que eles se sintam mais seguros em seguir no curso, Lurdete conta que há um trabalho
diferenciado com eles, que passam por uma tutoria que permite que eles sejam capazes de
acompanhar a turma.


“O movimento de uma universidade é completamente diferente do que eles estão acostumados a
viver. Por isso, os alunos indígenas têm atividades extras para poderem evoluir melhor nas
disciplinas. É interessante observar que eles têm excelentes habilidades manuais, se desenvolvem
muito rápido nessa parte. Por isso, na tutoria, enfatizamos mais a parte teórica”, relata. Os
professores também são instruídos a falar mais devagar para que eles possam acompanhar sem
dificuldades.


“É muito gratificante ver que eles caminham bem e que conseguimos devolver, para aquela
comunidade, uma pessoa que terá todo o conhecimento necessário para ajudar os que ali
residem. Isso porque o aluno indígena normalmente retorna para sua região. É diferente de um
aluno do interior, que vem para a capital e muitas vezes aqui permanece. Por não se identificarem
com a cultura do local, eles normalmente voltam para casa”, detalha Lurdete que se prontifica a
dizer que os outros alunos também têm muito a aprender com os indígenas, principalmente no
que diz repeito à ética e ao respeito aos mais velhos.


Hoje a Faculdade de Odontologia da UFPA já formou seis cirurgiões-dentistas indígenas e conta
com outros 50 alunos indígenas ativos.


Doações para banco de instrumentais


A UFPA segue recebendo doações para compor o banco de instrumentais. Todos os profissionais
interessados em doar equipamentos que não estão mais em uso ou indústrias da área de
odontologia que queiram contribuir com esse projeto podem entrar em contato direto com a
universidade para fazer a entrega. Os contatos são secretaria.fo@ufpa.br, direcao.fo@ufpa.br ou
pelo WhatsApp (91) 3201 7494.

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